sexta-feira, 24 de maio de 2013

78 anos de AA – AA Salvando vidas!

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domingo, 19 de maio de 2013

Levar a mensagem ao alcoólico

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REVISTA BRASILEIRA DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS - Nº 65 - MAI/JUN 2000 Uma aula de espiritualidade

 

A leitura de Variedades da Experiência Religiosa, de Williams James

, reservou "gratíssimas surpresas" a este companheiro.
Foi como se eu tivesse realmente "pronto" - no quarto ano de A.A. - para ler o texto do filósofo norte-americano William James, considerado o "pai da moderna psicologia". Li Variedades da Experiência Religiosa como quem estuda: com cuidadosa atenção e anotando passagens importantes num bloco de papel. Como não encontrei uma edição em português, recorri a um volume em espanhol, numa biblioteca pública, e isso por si só tornou minha leitura ainda mais atenta.
Foram muitas e gratíssimas as surpresas. A experiência foi notável, não só por confirmar para mim aspectos da espiritualidade que eu já havia percebido, por meio da prática do programa de A.A. - a exemplo da consideração do autor de que "Deus é real desde o momento em que produz efeitos reais", mas também porque me abriu novas e valiosas perspectivas de crescimento espiritual, ao esclarecer sensações que já tinham me assaltado mas que não conseguia identificar com clareza. Caso desta passagem:
"A prece ou a comunhão íntima com o espírito transcendental - seja 'Deus' ou 'lei' - constitui um processo onde o fim se cumpre realmente, e a energia espiritual emerge e produz resultados precisos, psicológicos ou materiais, no mundo fenomenológico.".
Ao final da leitura sobrou para mim uma certeza: a de que o crescimento espiritual constante poderá me conduzir a um estado em que minhas preces deixem de ser meramente súplicas (como foram até agora e acredito que assim continuarão por tempo indeterminado) e passem a representar um estado mais elevado, em que eu possa louvar e amar a Deus como Ele merece ser louvado e amado - para que a semente de Sua presença dentro de meu próprio espírito possa se tornar plenamente efetivada.
Confesso que, de início, não achava que fosse ler o livro inteiro, mas apenas dois dos 20 capítulos, os que tratam da conversão (que eu entendo como despertar espiritual). Findos os dois capítulos (cada capítulo corresponde a cada uma das 20 conferências realizadas por James na Universidade de Edimburgo, na Inglaterra, entre 1901 e 1902), compreendi que tinha aberto uma arca de tesouro, passando a devorar tudo.
Há no livro um aspecto que, logo de saída, me fisgou: a generosidade do mestre, que não dá um passo sem relatar detalhadamente casos verídicos (alguns envolvendo alcoólicos), além de citar bastante outros autores e pesquisadores - como é o caso destas palavras , creditadas ao professor Leuba, contemporâneo seu e também precurssor da psicologia da religião:
"Deus não é conhecido, não é compreendido, é simplesmente utilizado, às vezes como provedor material, às vezes como suporte moral, às vezes como amigo, às vezes como objeto de amor. Se demonstrar sua utilidade, a consciência espiritual não exige mais nada.
Existe Deus realmente?
O que é?, são perguntas irrelevantes.
Não é a Deus que encontramos na análise última dos fins da espiritualidade, mas sim a vida, maior quantidade de vida, uma vida mais ampla, mais rica, mais satisfatória. O amor à vida, em qualquer e em cada um de seus níveis de desenvolvimento, é o impulso religioso".
Outra citação, creditada pelo autor a Frederic Myers: "Se perguntarmos a quem dirigir a prece, a resposta (curiosamente, é certo...) há de ser isso não tem demasiada importância; a prece não é uma coisa puramente subjetiva, significa um incremento real da intensidade de absorção de poder espiritual - ou graça -, mas não sabemos suficientemente o que ocorre no mundo espiritual, para saber como atua a prece, quem toma conhecimento dela, ou por que tipo de canal é outorgada a graça".
James também afirma que "o ponto religioso fundamental é que na prece e energia espiritual - em outros momentos adormecida - torna-se ativa e realmente se efetua uma obra espiritual de algum gênero". Ele constatou, em suas extensas pesquisas sobre homens e mulheres que conseguiram despertar seu íntimo espiritual , que "o novo ardor que acende o peito dessas pessoas consome, com seu fulgor, as inibições inferiores que antes as perseguiam e imuniza-as da porção vil de suas naturezas. A magnanimidade, antes impossível, agora parece fácil; os convencionalismos insignificantes e os vis incentivos, antes tirânicos, agora não mais as subjugam".
Muito antes da fundação de A.A., James já utilizava palavras muito familiares a todos nós, membros da Irmandade: "O despertar espiritual pode advir por um crescimento gradual ou abruptamente (por crisis), mas em qualquer desses casos parece ter chegado 'para ficar'...". Citando Starbuck, outro contemporâneo seu, James comenta que o efeito do despertar espiritual consiste em proporcionar "uma mudança de atitudes com relação à vida, que é constante e permanente, ainda que os sentimentos flutuem...".
Essa singela colocação, "ainda que os sentimentos flutuem", produziu em mim um efeito balsâmico. É que durante um bom período de minha recuperação pessoal, vivia com medo de que minhas oscilações emocionais constituíssem um grande risco. É certo que preciso continuar muito atento a meus altos e baixos emocionais, mas o fato é que tal reflexão veio confirmar o que eu já vinha percebendo há algum tempo. Ou seja, que, como ser humano, estou sujeito a uma certa gangorra de sentimentos, que nem sempre, contudo, leva a uma recaída alcoólica.
Um pouco mais de esclarecimento, sobre os meus temores de recaída, chegou-me com essa reflexão: "Enquanto a nova influência emocional não alcançar um tom de eficácia determinante, as mudanças que produz são inconstantes e volúveis e o homem volta a recair em sua atividade original.
Mas quando uma emoção nova consegue uma certa intensidade, atravessa-se um ponto crítico, conseguindo-se uma revolução irreversível equivalente à produção de um novo estado natural".
E é muito significativo que, 35 anos antes da fundação de A.A., William James, confrontando o "santo" (para o autor, santa é toda pessoa com faculdades espirituais fortes e desenvolvidas) e o "homem forte" (refere-se ao conceito de super-homem, de Nietzche), tenha escrito: "(...) No entanto, é possível conceber uma sociedade imaginária na qual não caiba a agressividade mas sim apenas a simpatia e a justiça - qualquer pequena comunidade de verdadeiros amigos conduz a essa sociedade. Quando consideramos abstratamente esta sociedade, ela seria, em grande escala, o paraíso, já que cada coisa boa se produziria sem nenhum desgaste. O santo se adaptaria perfeitamente a essa sociedade.
Suas maneiras pacíficas seriam positivas para seus companheiros e não haveria ninguém que se aproveitasse de sua passividade. Portanto, o santo é, abstratamente, um tipo de homem superior ao 'homem forte', porque se adapta a essa sociedade mais elevada concebível, sem depender para nada o fato desta sociedade vir a se concretizar ou não jamais". Impossível não fazer uma analogia com A.A.
Nessa altura de minha programação pessoal, estou amplamente convencido de que a vasta literatura de A.A. é mais do que suficiente para minha recuperação constante - só por hoje. Lendo o livro de William James , pude sentir uma enorme satisfação também pelo fato de estar bebendo das águas de um dos regatos dos quais Bill W. se serviu. E uma grande necessidade de compartilhar minha experiência com os leitores da revista.
Vinte e quatro horas a todos.
Juan, São Paulo/SP
Revista Vivência nº 65 - - maio/junho 2000

Em todas as nossas atividades...

 
Acredito que as tradições servem tanto para manter unidos os grupos que compõem a Irmandade de A.A., mas também servem para que cada membro as aplique em seu dia-a-dia.AA-muito-mais-que...
Por exemplo, a Primeira Tradição nos fala de bem estar comum e de unidade. Sua mensagem significa que se vivo em unidade, harmonia e serenidade em meu trabalho e com minha família, minha vida terá características parecidas.
Tendo em conta que um Poder Superior está por cima de tudo (Segunda Tradição), se ajo de acordo com os preceitos divinos, nada de mal pode me acontecer.
Posso também colaborar com os outros e ajudá-los em qualquer circunstância, sem juízos nem discriminações (Terceira Tradição), deixando de lado o medo e dando o melhor de mim.
Comprometido  com meu trabalho, conservo minha individualidade sem que isso afete aos que me cercam. (Quarta Tradição).
Quando me proponho uma meta, busco-a com perseverança, sem escutar qualquer "canto de sereia" que poderia me desviar de meu objetivo primordial (Quinta Tradição).
Sempre tenho presente que quando uma situação envolve propriedade, dinheiro e prestígio (Sexta Tradição), devo andar com ´"pés de chumbo", porque sou extremamente "sensível" a essas coisas. Tento ser economicamente autossuficiente sem pedir ajuda a ninguém, praticando a moderação em meus gastos e equilibrando meu orçamento (Sétima Tradição). Esse hábito da economia está inspirado na sugestão de uma "reserva prudente".
Não sei tudo, por isso recorro aos que sabem mais do que eu, aos profissionais especialistas (Oitava Tradição). Não preciso fazer tudo sozinho; a ajuda  e os conselhos daqueles que estão acostumados a um tema podem me aproximar mais de um objetivo.
Delegar e compartilhar são habilidades que eu desconhecia e que adquirí na medida em que fui aceitando as pessoas, os lugares e as coisas (Nona Tradição).
Viver e deixar viver, essa máxima me afastou da controvérsia e me ensinou que às vezes é melhor ficar calado no momento oportuno do que ganhar uma discussão infrutífera (Décima Tradição).
Quando tenho uma ideia e quero compartilhá-la, trato de atrair aos que podem se interessar por ela e não de promovê-la como fazia nos bares (Décima Primeira Tradição).
Não importa o tamanho da obra que se esteja realizando; o que devo fazer é guardá-la para mim, manter-me anônimo (Décima Segunda Tradição) e isso é um grande sacrifício, me custa muito. Mas é necessário tentar e eu continuo tentando.


    (Grapevine, julho/agosto 2000)                              Colaboração: Wagner T.