ALCOOLISMO E OS ALCOÓLICOS
Até há bem pouco tempo o alcoolismo era considerado como um problema moral. Hoje, muitos consideram-no principalmente como um problema de saúde. Para cada bebedor-problema, será sempre um assunto muito pessoal. Os alcoólicos que procuram AA fazem frequentemente perguntas relacionadas com a sua própria experiência, os seus próprios medos e a sua própria esperança de encontrar uma vida melhor.
Há muitas ideias diferentes acerca do que o alcoolismo é na realidade. A explicação que parece fazer sentido para a maioria dos membros de AA é que o alcoolismo é uma doença, uma doença progressiva que nunca pode ser curada mas que, tal como outras doenças, pode ser detida. Indo um pouco mais longe, muitos membros de AA acham que a doença é a combinação de uma alergia ao álcool com uma obsessão mental pela bebida que, apesar das consequências, não pode ser vencida somente pela força de vontade.
Antes de entrarem em contacto com AA, muitos alcoólicos que não conseguem parar de beber consideram-se moralmente fracos ou até mentalmente desequilibrados. Para AA os alcoólicos são pessoas doentes que podem recuperar se seguirem um programa que é simples e que tem tido sucesso com mais de um milhão e meio de homens e mulheres.
Depois de o alcoolismo se ter instalado, não existe nada de moralmente errado com o facto de se estar doente. Nesta altura a força de vontade não resulta porque o doente perdeu o poder de escolha sobre o álcool. O importante é que ele encare de frente que é um doente e que aproveite a ajuda ao seu dispor. Também tem de ter o desejo de ficar bem. A experiência mostra que o programa de AA funcionará para todos os alcoólicos que forem sinceros no seu esforço para parar de beber, mas geralmente não resultará para aqueles que não estão absolutamente seguros de querer parar.
COMO POSSO SABER SE SOU REALMENTE UM ALCOÓLICO?
Só você poderá tomar essa decisão. Muitas pessoas que estão agora em AA tinham ouvido dizer que não eram alcoólicos que só precisavam de ter mais força de vontade, mudança de ambiente, mais descanso ou mais distracções para resolverem o seu problema. Estas mesmas pessoas acabaram por procurar AA porque sentiram, no seu íntimo, que o álcool as tinha derrotado e estavam dispostas a tentar qualquer coisa que as libertasse da compulsão pela bebida.
Alguns destes homens e mulheres passaram por experiências terríveis com o álcool até conseguirem admitir que o álcool não era para eles. Tornaram-se marginais, roubaram, mentiram, enganaram e até mataram durante o tempo em que bebiam. Aproveitaram-se dos patrões e maltrataram a família. Mostraram-se completamente irresponsáveis nas relações com os outros. Dissiparam os seus bens materiais, mentais e espirituais.
Muitos outros, com histórias muito menos trágicas, também procuraram AA. Nunca tinham sido presos nem hospitalizados. A sua maneira de beber excessiva talvez não tivesse sido notado pelos familiares e amigos mais próximos. Sabiam, porém, o suficiente sobre alcoolismo como doença progressiva para se assustarem. Entraram para AA antes de terem pago um preço muito elevado.
Em AA é costume dizer-se que não se pode ser um pouco alcoólico. Ou se é, ou não se é. Só a própria pessoa pode dizer se o álcool se tornou para ela um problema incontrolável. Consulte "Será que AA é para Si?"
UM ALCOÓLICO PODERÁ VOLTAR A BEBER "NORMALMENTE"?
Tanto quanto se sabe, quem se tenha tornado um alcoólico jamais deixará de o ser. O simples facto de se abster do álcool durante meses ou mesmo anos nunca deu a um alcoólico capacidade para voltar a beber normalmente ou em sociedade. Uma vez ultrapassada a fronteira que separa o bebedor excessivo do bebedor alcoólico irresponsável, parece não haver retrocesso. São poucos os alcoólicos que bebem deliberadamente para se meterem em dificuldades, mas estas parecem inevitáveis quando um alcoólico bebe. Depois de parar por algum tempo, o alcoólico pode pensar que não lhe fará mal experimentar umas cervejas ou uns copos de vinho. Isto pode levá-lo à ilusão de que pode evitar os problemas se beber só às refeições, mas não demorará muito até que o alcoólico volte ao velho padrão de bebedor excessivo, apesar de todos os seus esforços para se manter nos limites de uma maneira de beber moderada e social.
A resposta a esta pergunta, baseada na experiência de AA, é que quem é alcoólico jamais poderá controlar a sua maneira de beber. Assim só restam duas hipóteses: permitir que a maneira de beber se agrave progressivamente com todas as consequências prejudiciais que daí resultam, ou parar completamente e desenvolver um novo padrão de vida sóbrio e construtivo.
SERÁ QUE UM MEMBRO DE AA NÃO PODE BEBER NEM UMA CERVEJA?
É óbvio que em AA não há obrigações e ninguém controla os membros para saber se estão ou não a beber. A resposta a esta questão é que se uma pessoa é alcoólica, não pode arriscar-se a beber qualquer espécie de álcool. Álcool é sempre álcool, seja num martini, num whisky com soda, numa taça de champanhe - ou numa cervejinha. Para o alcoólico, um copo de álcool será sempre demais e vinte copos não chegam.
Para assegurarem a sua sobriedade, os alcoólicos têm simplesmente de se manter afastados do álcool, independentemente da quantidade, mistura ou concentração que pensam poder controlar.
É óbvio que poucas pessoas se embebedam com duas ou três garrafas de cerveja. O alcoólico sabe-o tão bem como qualquer outra pessoa. Mas os alcoólicos podem convencer-se de que vão simplesmente beber duas ou três cervejas e ficar por aí. Por vezes podem até seguir este plano durante alguns dias ou semanas. Podem acabar por decidir que já que estão a beber, o melhor será beber "a valer". Assim, aumentam o seu consumo de cerveja ou de vinho, ou passam para bebidas fortes. Uma vez mais, voltam ao ponto de partida.
CONSIGO MANTER-ME SÓBRIO DURANTE BASTANTE TEMPO ENTRE BEBEDEIRAS; COMO POSSO SABER SE PRECISO DE AA?
A maioria dos membros de AA diria que é a maneira como se bebe, e não a frequência com que se bebe que determina se se é ou não um alcoólico. No meio dos seus períodos de bebida muitos bebedores-problema podem estar semanas, meses e, às vezes, anos sem beber. Durante estes períodos de sobriedade poderão nem sequer pensar no álcool. Sem esforço mental nem emocional são capazes de escolher entre beber e não beber, e preferem não beber.
A dada altura, por razões inexplicáveis ou mesmo sem qualquer razão, apanham uma grande bebedeira. Esquecem o emprego, a família e outras responsabilidades cívicas e sociais. A bebedeira poderá durar uma só noite ou prolongar-se por dias ou semanas. Quando acaba, o bebedor fica geralmente fraco e cheio de remorsos, resolvido a não permitir que o mesmo volte a acontecer. Mas acontece.
Esta maneira "periódica" de beber é desconcertante, não só para aqueles que rodeiam o bebedor, como também para a própria pessoa que bebe. Ele ou ela não consegue perceber como é possível interessar-se tão pouco pelo álcool durante o período entre as bebedeiras e ter tão pouco controle sobre ele quando começa a beber.
O bebedor periódico pode ou não ser um alcoólico. Mas, se a sua maneira de beber se tornou incontrolável e se o período entre as bebedeiras é cada vez mais curto, é provável que tenha chegado o momento de enfrentar o problema. Se a pessoa está pronta a admitir que é alcoólica, então foi dado o primeiro passo em direcção à sobriedade continuada que milhares e milhares de A.A.s desfrutam.
OS OUTROS DIZEM QUE NÃO SOU ALCOÓLICO, MAS A MINHA MANEIRA DE BEBER PARECE ESTAR A PIORAR. SERÁ QUE DEVO ENTRAR PARA AA?
Enquanto bebiam, a família, amigos e médicos de muitos membros de AA asseguravam-lhes que não eram alcoólicos. O próprio alcoólico geralmente complica o problema por não estar disposto a enfrentar a situação de forma realista. Por não ser completamente honesto, o bebedor-problema dificilmente pode ser ajudado por um médico. De facto, é até de admirar que antos médicos tenham conseguido penetrar nas mentiras do bebedor-problema e fazer um diagnóstico correcto.
Nunca é demais sublinhar que a decisão importante - será que sou um alcoólico? - tem que ser tomada pelo bebedor. Só ele ou ela - e não o médico, a família ou os amigos - pode tomar essa decisão. Mas uma vez tomada, metade da batalha pela sobriedade está ganha. Se deixar que outros decidam por si, o alcoólico poderá estar a arrastar desnecessariamente os perigos e a desgraça provocados pela sua maneira descontrolada de beber.
SERÁ QUE SE PODE ALCANÇAR A SOBRIEDADE SÓ ATRAVÉS DA LITERATURA DE AA?
Algumas pessoas pararam de beber depois de lerem Alcoólicos Anónimos, o "Livro Azul" de AA que define os princípios básicos do programa de recuperação. No entanto, e sempre que possível, quase todos procuram imediatamente outros alcoólicos para com eles partilharem a sua experiência e sobriedade.
O programa de AA funciona melhor a nível individual para a pessoa que o reconhece e aceita como um programa que envolve outras pessoas. Ao trabalharem com outros alcoólicos no Grupo de AA, parece que os bebedores-problema aprendem mais acerca da sua doença e de como lidar com ela. Encontram-se rodeados por outros que compartilham a sua experiência passada, os seus problemas actuais e a sua esperança. Deixam de ter o sentimento de solidão que poderá ter sido um factor importante na sua compulsão para beber.
SE EU ENTRAR PARA AA, NÃO FICARÁ TODA A GENTE A SABER QUE SOU ALCOÓLICO?
O anonimato sempre foi, e é, a base do programa de AA. Depois de terem estado em AA durante algum tempo, a maior parte dos membros não se importa que se fique a saber que fazem parte de uma comunidade que os ajuda a manterem-se sóbrios. Tradicionalmente, os A.A.s nunca revelam a sua ligação com o movimento na imprensa, rádio ou em qualquer outro meio de comunicação social. E nenhum membro de AA tem o direito de quebrar o anonimato de outro.
Isto significa que o recém-chegado pode entrar para AA com a certeza de que nenhum dos seus novos amigos violará confidências relacionadas com o seu problema de bebida. Os membros mais antigos do Grupo compreendem o sentimento do recém-chegado. Lembram-se dos seus próprios medos quanto a serem publicamente identificados com o que parecia ser uma palavra terrível - "alcoólico".
Uma vez em AA, os recém-chegados podem achar graça ao facto de, no passado, se terem preocupado com o facto de se vir a saber que tinham parado de beber. Quando os alcoólicos bebem, a notícia das suas escapadelas espalha-se com uma velocidade notável. A maior parte dos alcoólicos já tem fama de bêbedo de primeira quando procura AA. Com raras excepções, a sua maneira de beber não é, provavelmente, segredo para ninguém. Nestas circunstâncias, seria de facto invulgar se as boas notícias da sobriedade continuada do alcoólico não provocassem também comentários.
Sejam quais forem as circunstâncias, ninguém, a não ser o próprio recém-chegado, pode divulgar a sua ligação com AA e, mesmo assim, só de modo a não prejudicar a Comunidade.
SE EU NÃO BEBER, COMO PODEREI SAIR-ME BEM NOS NEGÓCIOS, ONDE TENHO QUE FAZER MUITOS CONTACTOS SOCIAIS?
Nos dias de hoje, beber socialmente tornou-se uma parte integrante dos negócios em muitas áreas. Muitos dos contactos com clientes e possíveis clientes são combinados de modo a fazê-los coincidir com ocasiões em que os "cocktails", bebidas ou aperitivos parecem fazer parte integrante do dia ou noite. Muitos dos que são hoje membros de AA seriam os primeiros a admitir que frequentemente fizeram negócios importantes em bares, quartos de hotel e mesmo durante festas em casas particulares.
No entanto, é surpreendente a quantidade de trabalho que é feito no mundo inteiro sem a ajuda do álcool. Assim como é também surpreendente para muitos alcoólicos descobrir como conhecidos homens de negócios, da indústria, das artes e outros profissionais tiveram êxito sem dependerem do álcool. Na realidade, muitos dos que estão hoje sóbrios em AA admitem que usaram os "contactos de negócios" como uma das várias desculpas para beber. Agora que já não bebem, descobrem que, na realidade, conseguem fazer mais do que faziam antes. A sobriedade tem provado não ser um impedimento à sua capacidade para fazer amigos e influenciar pessoas que poderiam contribuir para o seu êxito económico.
Isto não quer dizer que todos os membros de AA tenham passado subitamente a evitar os seus amigos ou companheiros de negócios que bebem. Se um amigo quer tomar um "cocktail" ou dois antes de almoço, o membro de AA toma geralmente um refrigerante, um café ou um sumo. Se for convidado para um "cocktail" por motivo de negócios, geralmente ele não hesita em ir. O alcoólico sabe, por experiência própria, que os outros convidados estão mais interessados nas suas próprias bebidas do que nas dos outros.
À medida que começa a sentir-se orgulhoso da qualidade e quantidade do seu trabalho, o recém-chegado a AA descobrirá provavelmente que o êxito nos negócios ainda se baseia na eficiência. Esta verdade simples não era tão óbvia na época em que bebia. Naquela época estava certamente convencido de que a simpatia, a genialidade e a sociabilidade eram as chaves do êxito nos negócios. Na verdade, embora estas qualidades sejam úteis para a pessoa que bebe controladamente, elas não chegam para o alcoólico pois este, quando bebe, tem tendência a dar-lhes muito mais importância do que elas merecem.
SERÁ QUE AA FUNCIONA PARA A PESSOA QUE TENHA REALMENTE CHEGADO AO "FUNDO DO POÇO"?
A experiência mostra que AA funciona para quase todos os que querem verdadeiramente parar de beber, seja qual for a sua situação económica ou social. AA tem hoje muitos membros que estiveram na valeta, em cadeias ou outras instituições públicas. Uma pessoa fracassada não pode sentir-se inferiorizada ao entrar para AA. O seu problema fundamental, o que tornou a sua vida ingovernável, é idêntico ao problema central de todos os outros membros de AA. Não se julga o valor de um membro de AA pela roupa que usa, pela sua maneira de falar ou pela sua conta bancária. A única coisa que conta em AA é se o recém-chegado quer parar de beber. Se quer, será bem-vindo. É muito possível que ele fique espantado ao descobrir como tantos outros membros conseguem contar histórias muito piores quando se trata de revelar passados e experiências semelhantes aos seus.
HAVERÁ ALCOÓLICOS QUE ENTRAM EM AA JÁ SÓBRIOS?
A maioria dos homens e mulheres procuram AA quando atingem o ponto mais baixo nos seus percursos de bebedores. Contudo, nem sempre é este o caso. Muitas pessoas entraram na Comunidade muito depois de terem tomado o que esperavam ser o seu último copo. Uma delas, ao reconhecer que não conseguia controlar o álcool, tinha estado sem beber durante seis ou sete anos, antes de se tornar membro de AA. Porém, a sua sobriedade forçada não tinha sido uma experiência feliz. A crescente tensão e os vários transtornos causados pelos pequenos problemas do dia-a-dia estavam a ponto de levá-la a novas experiências com o álcool, quando um amigo lhe sugeriu que procurasse AA. Desde então e já há alguns anos é membro de AA, e afirma que não há comparação possível entre a sobriedade feliz que tem hoje e a abstinência desconsolada que tinha antigamente.
Outros contam experiências semelhantes. Embora saibam que é possível permanecer-se tristemente abstinente por períodos de tempo consideráveis, dizem que, para eles, é muito mais fácil apreciar e fortalecer a sua sobriedade quando se reúnem e trabalham com outros alcoólicos em AA. Como a maioria da raça humana, não vêem vantagem nenhuma em fazer as coisas da maneira mais difícil. Sendo-lhes possível escolher a sobriedade com ou sem AA, escolhem deliberadamente AA.
PORQUE É QUE AA SE INTERESSA POR BEBEDORES-PROBLEMA?
Os membros de AA têm um interesse pessoal em oferecer ajuda a outros alcoólicos que ainda não alcançaram a sobriedade. Em primeiro lugar sabem por experiência própria que este tipo de actividade, à qual costumam chamar de trabalho do "Décimo Segundo Passo", os ajuda a manterem-se sóbrios. As suas vidas têm agora um grande e premente objectivo. É provável que as lembranças das suas próprias experiências anteriores com o álcool os ajudem a evitar o excesso de confiança que poderia levá-los a uma recaída. Seja qual for a explicação, os membros de AA que se dispõem a ajudar outros alcoólicos raramente têm dificuldade em manter a sua própria sobriedade.
A segunda razão pela qual os membros de AA sentem uma grande necessidade de ajudar os bebedores-problema é que, desta forma, têm a oportunidade de retribuir aos que os ajudaram em AA. É a única maneira prática que o indivíduo tem de poder pagar a sua dívida para com AA. O membro de AA sabe que a sobriedade não se compra e que não se pode partir do princípio de que ela se irá manter por muitos anos. Contudo, ele sabe que pode ter uma nova maneira de viver sem o álcool, se honestamente o desejar e se estiver disposto a partilhá-la com os que vierem a seguir. Tradicionalmente, AA nunca "recruta" membros, não tenta convencer ninguém a tornar-se membro e nunca solicita nem aceita fundos.
Se o recém-chegado estiver convencido que é alcoólico e que AA poderá ajudá-lo, faz geralmente uma série de perguntas específicas sobre a natureza, a estrutura e a história do movimento em si. Eis algumas das mais comuns.
O QUE SÃO OS ALCOÓLICOS ANÓNIMOS?
Há duas maneiras práticas de descrever AA. A primeira é a descrição comum dos seus propósitos e objectivos que aparece no início deste folheto:
Alcoólicos Anónimos é uma comunidade de homens e mulheres que partilham entre si a sua experiência, força e esperança para resolverem o seu problema comum e ajudarem outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de AA não é necessário pagar taxas de admissão nem quotas. Somos auto-suficientes pelas nossas próprias contribuições. AA não está ligado a nenhuma seita, religião, instituição política ou organização, não se envolve em qualquer controvérsia, não subscreve nem combate quaisquer causas. O nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade.
O "problema comum" é o alcoolismo. Os homens e mulheres que se consideram membros de AA são e serão sempre alcoólicos, embora possam ter outras adicções. Reconheceram finalmente que já não são capazes de controlar qualquer tipo de bebida alcoólica. Hoje mantêm-se completamente afastados da bebida. O mais importante é que não tentam enfrentar o problema sozinhos. Discutem-no abertamente com outros alcoólicos. Esta partilha de "experiência, força e esperança" parece ser o elemento chave que torna possível viverem sem álcool e até, na maioria dos casos, sem vontade de beber.
A segunda maneira de descrever Alcoólicos Anónimos é delinear a estrutura da Comunidade. Numericamente, AA compõe-se de mais de 2.000.000 de homens e mulheres em 150 países. Estes homens e mulheres reúnem-se em Grupos que variam em tamanho, desde uma meia dúzia de ex-bebedores em algumas localidades, até várias centenas em comunidades maiores.
Nas áreas metropolitanas populosas podem existir numerosos Grupos, cada um com as suas próprias reuniões regulares. Muitas reuniões de AA são abertas ao público. A maior parte dos Grupos têm "reuniões fechadas", nas quais os membros se sentem encorajados a discutir problemas que poderiam não ser inteiramente compreendidos por não-alcoólicos.
O Grupo é considerado o núcleo da Comunidade AA. As suas reuniões abertas recebem alcoólicos e os seus familiares num ambiente de amizade e ajuda mútua. Hoje existem mais de 93.000 Grupos pelo mundo inteiro, incluindo algumas centenas em hospitais, prisões e outras instituições.
Alcoólicos Anónimos nasceu em Akron, em 1935, quando um homem de negócios de Nova Iorque, sóbrio pela primeira vez em anos, visitou um outro alcoólico. Durante os seus poucos meses de sobriedade, este homem de Nova Iorque tinha notado que o seu desejo de beber diminuía quando tentava ajudar outros “bêbedos” a alcançar a sobriedade. Em Akron foi conduzido a um médico local que tinha problemas com a bebida. Trabalhando juntos, o homem de negócios e o médico descobriram que a sua capacidade de permanecerem sóbrios parecia estar muito relacionada com o grau de ajuda e encorajamento que conseguiam dar a outros alcoólicos.
Durante quatro anos o novo movimento, sem nome, sem qualquer organização ou literatura descritiva, cresceu lentamente. Formaram-se Grupos em Akron, Nova Iorque, Cleveland e nalguns outros locais.
Em 1939, com a publicação do livro Alcoólicos Anónimos do qual a Comunidade tirou o seu nome, e como resultado da ajuda de vários amigos não-alcoólicos, a Comunidade começou a atrair a atenção nacional e internacional. Abriu-se então um escritório de serviços na cidade de Nova Iorque, para responder aos milhares de perguntas e pedidos de literatura que são recebidos todos os anos.
SERÁ QUE EXISTEM REGRAS EM AA?
A ausência de regras, regulamentos ou obrigações é um dos aspectos únicos de AA, como Grupo local e como comunidade mundial. Não existem regulamentos que digam que um membro precisa de assistir a um certo número de reuniões num determinado período de tempo.
É compreensível que a maioria dos Grupos tenha uma tradição não escrita de que aquele que ainda bebe e perturba as reuniões com o seu comportamento barulhento poderá ser convidado a sair da sala. Esta mesma pessoa será bem vinda noutro dia qualquer, desde que não prejudique a reunião. Entretanto, os membros do Grupo farão o possível para ajudá-lo a alcançar a sobriedade, desde que ele ou ela tenha o desejo sincero de parar de beber.
QUANTO É QUE SE PAGA PARA SER MEMBRO DE AA?
Não existem quaisquer obrigações financeiras para se ser membro de AA. O programa de recuperação do alcoolismo de AA está disponível para qualquer um que deseje parar de beber, quer esteja arruinado ou seja milionário.
A maioria dos Grupos faz uma colecta nas reuniões, para custear o aluguer da sala de reuniões e pagar outras despesas tais como o café, sanduíches, bolos ou qualquer outra coisa. Na maior parte dos Grupos, parte do dinheiro da colecta destina-se à contribuição voluntária para os serviços nacionais e internacionais de AA. Estes fundos são utilizados exclusivamente para ajudar Grupos novos e antigos e para levar a mensagem do programa de recuperação de AA aos "muitos alcoólicos que ainda o não conhecem".
A ideia fundamental é que para ser membro de AA não é preciso apoiar financeiramente a Comunidade. De facto, muitos Grupos de AA estabeleceram limitações rigorosas aos montantes de contribuições dos seus membros. AA é inteiramente auto-suficiente e não aceita contribuições de fora.
AA não tem empregados ou executivos com poderes ou autoridade sobre a Comunidade. Não existe "governo" em AA. Contudo, é evidente que, mesmo numa organização informal, certas actividades têm de ser desempenhadas. No Grupo local, por exemplo, alguém tem de arranjar uma sala adequada para reuniões, e as reuniões precisam de ser programadas e preparadas. É necessário providenciar o abastecimento de café e bolachas que tanto contribuem para o ambiente de camaradagem nas reuniões de AA. Em muitos Grupos acham também conveniente que alguém se responsabilize pela correspondência de AA, a nível nacional e internacional.
Quando se abre um Grupo, alguns voluntários podem assumir essas responsabilidades, agindo informalmente como servidores do Grupo. Contudo, assim que possível, estas responsabilidades são transferidas rotativamente por meio de eleições para outros membros do Grupo, que servem por períodos de tempo limitados. Um Grupo típico de AA tem geralmente um coordenador, um secretário, uma comissão de programação de reuniões, um responsável pelo serviço de café, um tesoureiro e um Representante de Serviços Gerais, o qual representa o Grupo em reuniões regionais ou locais. Os recém-chegados que tenham já um certo tempo de sobriedade são encorajados a prestar serviço no Grupo. A nível nacional e internacional existem também tarefas específicas a serem desempenhadas. É necessário escrever, imprimir e distribuir literatura aos Grupos ou pessoas que a pedem. É também necessário responder às perguntas feitas por Grupos novos ou Grupos já formados e responder aos pedidos de informação sobre AA e o seu programa de recuperação do alcoolismo.
Há que procurar informar e dar esclarecimentos a médicos, membros do clero, homens de negócios e directores de instituições, assim como criar e manter boas relações públicas com a imprensa, rádio, televisão, cinema e outros meios de comunicação. Para garantir o crescimento seguro e saudável de AA, os primeiros membros da comunidade, juntamente com amigos não alcoólicos, constituíram um Conselho de Custódios, hoje conhecido como Conselho de Serviços Gerais de Alcoólicos Anónimos. O Conselho serve de guardião das tradições de AA e de tudo o que diga respeito a AA e responsabiliza-se pela qualidade de serviços prestados pelo Escritório de Serviços Gerais de AA em Nova Iorque.
O elo de ligação entre o Conselho e os Grupos de AA dos Estados Unidos (da América) e do Canadá é a Conferência de Serviços Gerais de AA. A Conferência, composta por cerca de 91 delegados de zona de AA, de 21 Custódios no Conselho, membros pertencentes ao Escritório de Serviços Gerais e outros, reúne todos os anos durante alguns dias. A Conferência é um órgão exclusivamente consultivo. Não tem qualquer autoridade para regular ou governar a Comunidade. Assim, a resposta à pergunta "Quem dirige AA?" é que a Comunidade é um movimento invulgarmente democrático, sem autoridade central e só com um mínimo de organização formal.
SERÁ QUE AA É UMA COMUNIDADE RELIGIOSA?
Não, AA não é uma comunidade religiosa, na medida em que não é preciso ter nenhum credo religioso definido para se ser membro. Muito embora tenha sido apoiada e aprovada por muitos chefes religiosos, não está ligada a nenhuma organização ou seita. Entre os seus membros há católicos, protestantes, judeus, membros de outras grandes comunidades religiosas, agnósticos e ateus.
O programa de AA para a recuperação do alcoolismo está inegavelmente baseado na aceitação de certos princípios espirituais. Cada membro tem a liberdade de os interpretar conforme ele ou ela entender ou, pura e simplesmente, nem sequer se preocupar com eles.
A maior parte dos membros, antes de recorrer a AA, já tinha admitido que não conseguia controlar a sua maneira de beber. O álcool tinha-se transformado num poder superior a eles próprios e aceite como tal. AA sugere que para alcançar e manter a sobriedade, os alcoólicos precisam de aceitar e depender de um outro Poder que reconheçam como sendo superior a eles próprios. Alguns alcoólicos preferem considerar o seu Grupo como esse poder superior. Para muitos outros, este poder é Deus - como cada um O concebe. Outros ainda, acreditam em conceitos completamente diferentes de um Poder Superior.
Quando recorrem a AA, alguns alcoólicos mostram inicialmente muitas reservas quanto a aceitar qualquer concepção de um Poder superior a eles próprios. A experiência mostra que, se mantiverem a mente aberta a esse respeito e continuarem a assistir a reuniões de AA, provavelmente acabará por não lhes ser muito difícil descobrir por si mesmos uma solução aceitável para este problema, que é puramente pessoal.
SERÁ QUE AA É UM MOVIMENTO A FAVOR DA TEMPERANÇA?
Não, o AA não está relacionado com qualquer movimento a favor da temperança. A frase “AA não subscreve nem combate quaisquer causas” copiada das linhas gerais amplamente aceites do Preâmbulo da Comunidade também se aplica à questão dos assim chamados movimentos a favor da temperança. O alcoólico que atingiu a sobriedade e que tenta seguir o programa de recuperação de AA tem uma atitude para com o álcool que pode ser semelhante à do doente alérgico para com a causa da sua alergia.
Embora muitos A.A.s reconheçam que o álcool não faz mal nenhum a muita gente, também sabem que para eles próprios é um veneno. Normalmente um membro de AA não deseja privar ninguém de uma coisa que, usada com cuidado, pode ser uma fonte de prazer. O membro de AA apenas reconhece que ele/ela é que não é capaz de lidar com o álcool.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário e sua partilha, publicaremos o mais breve possivel, queremos saber a sua opinião.