A gratidão é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor etc.
A gratidão é uma emoção que envolve um sentimento de dívida emotiva em direção de outra pessoa; freqüentemente acompanhado por um desejo de agradecê-lo, ou reciprocar para um favor que fizeram por você. Num contexto religioso, gratidão também pode referir-se a um sentimento de dívida em direção de uma divindade; a expressão de gratidão a Deus é um tema central do cristianismo.
Quero começar pelo senso comum. Muitas pessoas só se sentem capazes de agradecer por comparação a quem tem menos ou não têm nada, por comparação a moribundos, miseráveis, destituídos, ou a quem perdeu. É muito freqüente ouvirmos sermões do tipo: “Agradeça por ter um corpo perfeito; por ter uma casa, alimento, saúde, por ser parte de uma minoria privilegiada... Agradeça por estar sem beber enquanto a maioria vai beber até a morte”. É a alegria pela comparação com as desgraças dos outros. Na verdade, uma forma vulgar e bem baixa de gratidão. Uma gratidão passiva, fruto de espíritos mais invejosos do que virtuosos. Precisam da miséria, da derrota ou da infelicidade alheia para ser felizes. É a alegria por saber que se tem o que o outro não possui. Emerge somente por comparação, por meio de um olhar invejoso e competitivo. É uma forma infeliz de gratidão. Tem o mal do outro como condição.
A gratidão, antes de ser um consolo ou um sentimento de dívida, pode ser um ato. O ato simples de usufruir o que se tem. Ser grato, em seu sentido mais virtuoso, é dar valor ao que se tem.
A gratidão é dom, a gratidão é partilha, a gratidão é amor: é uma alegria que acompanha a idéia de sua causa quando essa causa é a generosidade do outro, ou sua coragem, ou seu amor. Alegria retribuída: amor retribuído.
Gratidão diz respeito mais precisamente ao reconhecimento de que não somos sujeitos absolutos de nossa própria condição. Ser grato é reconhecer que outras pessoas também participaram na produção de nossa aventurança. Trata-se de certa humildade que obriga a reconhecer o outro como parte de nossa alegria. É poder dedicar, compartilhar a graça recebida. Reconhecer o que nos foi dado.
Agradecer é dar; ser grato é dividir. Esse prazer que devo a você não é apenas para mim. Essa alegria é a nossa. Essa felicidade é a nossa.
O egoísta pode regozijar-se em receber. Mas seu regozijo é seu bem, que ele guarda só para si. Ou, se o mostra, é mais para fazer invejosos do que felizes: ele exibe seu prazer, mas é o prazer dele. Já esqueceu que outros têm algo a ver com isso. Que importância tem os outros? Por isso o egoísta é ingrato: não porque não goste de receber, mas porque não gosta de reconhecer o que deve a outrem.
O egoísta é incapaz disso, pois só conhece suas próprias satisfações, sua própria felicidade, pelas quais zela como um avaro por seu cofre.
A ingratidão não é incapacidade de receber, mas incapacidade de retribuir – sob a forma de alegria, sob a forma de amor – um pouco da alegria recebida ou sentida.
Ser grato é um ato louvável. Pela gratidão, reconhecemos que fomos ajudados. E reconhecemos igualmente que existe um Poder, uma força superior a nós, sem a qual não podíamos ser ajudados.
Gratidão é atitude muito comumente encontrada nas religiões. Desde crianças costumamos ouvir: “Agradeça a Deus por isso ou por aquilo.” Seria uma obrigação do tipo agradeci, pronto. Missão cumprida!
Mesmo que a gratidão seja mais profunda e autêntica, ela se limita ao reconhecimento. Esgota-se aí, por si mesma.
Em nossas salas, frequentemente, ouvimos: “Eu sou grato a Alcoólicos Anônimos porque conquistei minha família, meu nome, ou meu emprego, ou minha saúde...”.
Mas será que a gratidão, por si só, é tudo?
Penso que em Alcoólicos Anônimos não basta ser grato. Precisamos de algo mais que ser grato. Afinal devemos ter atitude de gratidão com relação à oportunidade que um Poder Superior nos deu de termos chegado com vida em A.A.
Então mais que gratidão devemos ter atitude de gratidão.
Logo que chegamos em A.A., começamos o nosso caminhar consciente. Primeiro o esforço para não beber só por hoje. Depois iniciar uma programação para não retornar à bebida com os nossos 12 Passos. A seguir, começamos uma participação maior “compartilhando experiências, forças e esperanças” que fazem a nossa Unidade e ainda a participação em serviços que abre as portas para outros chegarem da mesma forma que outros, antes de nós, através do serviço mantiveram as portas abertas possibilitando a nossa chegada, quando Deus, na concepção de cada um, permitiu que isso acontecesse.
Para que isso aconteça, não basta a gratidão. Não basta reconhecermos humildemente que fomos ajudados. Não é suficiente expressar via palavras que somos gratos e o quanto somos gratos a nossa querida Irmandade.
É importante é extremamente necessário que passemos da grata reflexão à ação – palavra-chave. É vital que participemos ativamente. Todos. Cada um de nós na prática de nossos princípios, na transmissão da mensagem, na manutenção de nossa estrutura, enfim de nosso terceiro legado: O Serviço.
A prática do serviço tem que ser responsável e responsabilidade é a atitude que sucede à gratidão. Responsabilidade dá sentido à gratidão. Se a gratidão sozinha não diz muita coisa, quando associada à responsabilidade ela se torna amor a Alcoólicos Anônimos.
A expressão que define gratidão, portanto, é o serviço prestado com amor, com responsabilidade. Talvez, o nosso termo de responsabilidade ficasse mais correto se ao invés de “quando qualquer um estender a mão pedindo ajuda, quero que a mão de A.A. esteja sempre ali e por isso eu sou responsável” usássemos “e por isso eu sou grato, eternamente grato a essa Irmandade de homens e mulheres que salvou a minha vida e a de outros tantos espalhados mundo afora”.
Aqui, porém, cabe um sinal de perigo a um erro muito comum que acontece quando estamos servindo em A.A. que é esperar gratidão. É fazer algo pelo outro já, de antemão, esperando que no futuro haja reconhecimento. Fazer de graça, por amor, esperando gratidão ou retribuição, é tolice. Neste sentido, o serviço deve ser realizado sem esperar nada em troca. Isto simplesmente porque a gratidão do outro é do outro.
Por outro lado, sentir-se grato, às raias de um sentimento constante de dívida impagável, também pode não ser muito saudável. A gratidão é sempre boa na medida da alegria que a acompanha. E a angústia de uma dívida constante carece de alegria. Já vi casos em que a gratidão mais expressava sofrimento do que alegria. A pessoa se sentia, na verdade, mais devedora do que grata. Embora se expressasse sempre com a palavra “gratidão”. Sim, quando somos gratos, podemos assim dizer: “devo muito a você, a fulano ou sicrano. Devo muito ao meu Grupo base; devo muito a Alcoólicos Anônimos”, porém, em muitos casos, não é possível que todos sejam “pagos”, que todas estas dívidas sejam saldadas.
Não é o caso de pagar, mas de comemorar juntos a alegria da graça obtida. E o Serviço em A.A. é a oportunidade que temos de comemorar a alegria da graça obtida. O Serviço em A.A. é a verdadeira expressão da gratidão.
Para encerrar, ficarei com as palavras do Dr. Bob retiradas do livro Alcoólicos Anônimos no capítulo 12 “O pesadelo do Dr. Bob”:
“Passo muito tempo transmitindo o que aprendi àqueles que querem e precisam desesperadamente disto. Faço-o por quatro motivos:
- Sentimento de dever.
- É um prazer.
- Porque, ao fazer isto, estou pagando minha dívida para com o homem que encontrou tempo para me transmitir tudo isso.
- Porque, a cada vez que o faço, garanto-me um pouco mais contra uma possível recaída.
Obrigado companheiros e companheiras por me permitirem expressar a minha gratidão a Alcoólicos Anônimos através do serviço prestado com alegria que é a expressão máxima de amor.
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