quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

OS GRUPOS ANONIMOS DE MÚTUA AJUDA E O SÉCULO XXI

 

Pelo Dr. Eduardo Mascarenhas - Psicanalista
Vejo com a maior simpatia instituições como os Alcoólicos Anônimos e outras que derivaram dele. Não só já prestaram, prestam e prestarão inestimáveis serviços, como ainda representam um modelo de instituição moderna e democrática.
Creio que, no século XXI, a humanidade recorrerá cada vez mais a instituições desse tipo. Será a sociedade tratando a própria sociedade. Sem nada de autoridades ou superiores, nada de médicos, psiquiatras, psicanalistas ou psicólogos. Apenas pessoas que viveram na carne certos problemas, aprenderam a controlá-los e estão aptas a auxiliar pessoas com problemas semelhantes.
Não se fala tanto de democracia, de organização da sociedade, de fortalecimento de suas instituições privadas? Que é preciso que a sociedade esteja livre da inevitável burocracia do Estado?
Pois bem, instituições como esses grupos anônimos de auxílio mútuo fortalecem a sociedade civil, tornando-a mais autônoma do jogo de influências políticas. É a própria sociedade se auto administrando, buscando nela própria a solução de seus problemas.
Aliás, essa é uma boa maneira de evitar o empreguismo, a politicagem, os tráficos de influência, as mordomias, a corrupção, a arrogância dos burocratas. Chega de tecnocratas, de especialistas sabichões! Vamos devolver ao cidadão comum a plenitude de sua cidadania. Vamos extinguir os paternalismos e deixar as pessoas, elas próprias, inventarem os meios de enfrentar suas dificuldades. Acima de tudo, esse tipo de instituição não depende de nenhum Inamps da vida, está é alheia ao jugo estatal ou aos interesses de grandes empresas. Além disso, a mistura de classes sociais nesses grupos representa não só inestimável lição de vida como também de democracia. O convívio de pessoas diferentes resulta sempre numa experiência enriquecedora.
Os pobres, convivendo de perto com os ricos, poderão descobrir que estes não são feitos de outra argila e, a não ser pelos recursos exteriores, não são tão poderosos assim.
Já os ricos, convivendo tão de perto com os pobres, serão obrigados a enxergar mais além das aparências imediatas e descobrir que falta de escolaridade não é sinônimo de burrice, e que muitos analfabetos são capazes de rara sensibilidade e sabedoria. Não frequentaram os bancos acadêmicos, é verdade, mas cursaram a escola da vida.
Apesar de não possuírem qualquer coloração política, esses grupos anônimos de auxílio mútuo são, nesse sentido, profundamente políticos.
Não estou, com essas considerações, querendo diminuir a importância da medicina ou da psicanálise. Não se trata de opô-las aos grupos anônimos. Cada qual tem seu valor específico, sua eficácia específica e muitas vezes se complementam. Não há, por exemplo, nenhuma incompatibilidade entre frequentar um grupo anônimo e fazer psicanálise. Pelo contrário, pode haver até um ganho exponenciado, complementar. Por essas e outras, os grupos anônimos travam o melhor relacionamento possível com os profissionais da área de saúde. E - justiça seja feita - cada vez mais médicos e psicanalistas vêm mantendo excelentes relações com os grupos anônimos.
Claro que há exceções: alguns, por desconhecimento ou preconceito, já não agem assim; outros, por excessiva vaidade profissional, pela presunção de que tudo sabem e tudo podem.também não; isto sem contar, é óbvio, aqueles que hostilizam os grupos anônimos movidos por interesses inconfessáveis - temem perder clientes ou o monopólio de salvadores da humanidade adoecida ou aflita.
Aos meus pacientes de consultório que são alcoólatras ou padecem de alguma outra dependência química, não hesito um só momento em recomendar os grupos anônimos. Faço isso com a mesma naturalidade com que indico um gastroenterologista a um amigo que esteja com uma úlcera no estômago.
Colaboração Grupo Carmo Sion de AA

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