REVISTA VIVÊNCIA - REVISTA BRASILEIRA DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
Ano 25 - Número 6 | Novembro-Dezembro/2010 | Edição nº 128 - pag. 58
PARA ONDE ESTAMOS INDO?
Em A.A. não posso fazer o que quero em nome do meu alcoolismo.
Os Estados Unidos têm cerca de 309.000.000 de habitantes e cerca de 63.000 grupos de A.A. O México tem cerca de 109.000.000 de habitantes e 15.000 grupos. O Brasil tem cerca de 200.000.000 de habitantes e cerca de 4.600 grupos. Há poucos anos atrás possuíamos aproximadamente 6.000 grupos. Por que essa queda no número de grupos no Brasil? Não quero aqui arranjar explicações nem teorias conspiratórias para isso. Apenas quero com isso mostrar uma realidade, coisa não muito comum entre os AAs. O normal, às vezes, é se lamentar, pois isso é justamente falta de determinação para enfrentar a realidade. Afinal, a não aceitação da realidade, é o que causa mais sofrimento nas pessoas. Sabemos que quando a gente não se moderniza, andamos para trás, nos distanciamos da realidade. Segundo fonte de confiança, o A.A. americano e mexicano é pragmático e objetivo.
O nosso, bem, o nosso é muita coisa, menos isso. Questiona-se muito, fazem-se seminários e encontros para discutir porque os novos não ficam. Mas não encontramos paradigmas para seguir e continuamos às cegas. Ora, os novos não ficam porque não encontram, muitas vezes, um ambiente acolhedor. É complicado para o CTO, quando os seminários para profissionais funcionarem e o grupo não estar preparado para receber. Quando o alcoólico recém-chegado chega deve ser bem acolhido, orientado, mesmo antes da reunião. Isso é ser pragmático. Não ser jogado na sala como se fosse "mais um" apenas. O recém-chegado vem de uma situação de miséria e ao adentrar nas salas de A.A. encontra, muitas vezes: um ambiente hostil onde pessoas falam palavrões e agressões na cabeceira de mesa. São repetitivas pela ausência do conhecimento do programa, grosseiras, valentes, cheias de complexo de inferioridade, falando mal de companheiros, de sua família e de grupos. Isso torna o grupo repelente. "O ressentimento é o agressor número um. Ele destrói mais alcoólicos do que qualquer outra coisa. Se pretendemos viver, precisamos nos livrar da raiva. Evitamos vinganças e discussões." (Livro Azul)
E alguns "veteranos" dizem:"deixa o pobre coitado falar o que quer. Ele é mais doente do que nós". Ora, isso é uma maneira disfarçada de me sentir um pouco superior ao outro. Em A.A. não posso fazer o que quero em nome do meu alcoolismo. Onde fica o bem estar comum? A unidade? Ah! Mas o companheiro não sabe o que é isso! Então, chame-o e explique a ele que a gentileza tem poder, grosseria não. É interessante registrar que são exatamente os chamados "antigos" que criam mais problemas. Os que estão chegando se adaptam ao programa desde que sejam bem orientados. É costume ouvir na cabeceira de mesa alguns "antigos" se referirem àqueles que estudam o programa como "professores" ou "doutores". Não sabem eles que isso é uma maneira deles revelarem seus complexos de inferioridade. Como o programa do A.A. é paradoxal, os professores em A.A. são exatamente as pessoas problemáticas. Porque elas nos ensinam a não fazer o que eles fazem de errado. Os melhores professores, em A.A. são "os velhos resmungões." Muitos membros no Brasil, acham que vivenciar o programa do A.A. é só evitar o primeiro gole.
"Nossa bebida foi apenas um sintoma. Portanto, precisamos ir em busca das causas e das circunstâncias. Todo alcoólico recém-chegado acha que vai encontrar este estado de ânimo entre nós e fica imensamente aliviado quando descobre que não perseguimos ninguém." (Livro Azul). "O que acontece às vezes nas salas é o contrário. Temos pessoas atacando o álcool em vez de falar de sua recuperação e do programa de A.A. e pouca utilidade teremos com nossa atitude de amargura e hostilidade. Afinal, somos nós mesmos os responsáveis por nossos problemas. As garrafas são apenas um símbolo.
Além disso, “paramos de lutar contra qualquer pessoa ou coisa - até mesmo contra o álcool. Precisamos ser assim!”(Livro Azul). Não esqueçamos que em A.A. não se conta tempo, mas experiência se conta e se transmite.
Neto - Natal - RN
Vivência | Novembro-Dezembro/2010 | Edição nº 128 - pag. 59
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